O presidente da Colômbia e ganhador do Nobel da Paz, Juan Manuel Santos, concluiu neste sábado sua visita à Itália com um novo prêmio, a Lâmpada da Paz de São Francisco", na cidade de Assis, onde prometeu "não esmorecer".
"Não se pode esmorecer, e, agora, mais do que nunca, tem valor a sabedoria da nossa cultura latina, que diz: 'Não avançar é retroceder'", assinalou, ao se definir como um simples "instrumento para a paz".
"Hoje, peço apenas a São Francisco de Assis que siga nos inspirando, para que possamos implementar esta paz que assinamos e torná-la realidade em cada cidade, povoado, vereda, em cada família da Colômbia", acrescentou.
A implementação ou aplicação dos acordos assinados com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) após mais de meio século de conflito dominou os compromissos de Santos, principalmente no Vaticano, onde, na véspera, ele se reuniu com o Papa.
"O Papa me reiterou o apoio ao novo acordo de paz, reiterou o apoio à pronta implementação do acordo", repetiu Santos da basílica medieval de Assis para cerca de 500 pessoas, entre elas o presidente do Senado, Pietro Grasso, e religiosos.
- Sem data para a viagem do Papa -Santos retorna a seu país sem uma data para a prometida visita do pontífice argentino à Colômbia, evento que, para muitos, poderia dar novo impulso à aceitação dos acordos de paz por amplos setores da população.
O Papa prometeu viajar à Colômbia quando o acordo de paz estiver "blindado e a situação, estável", e é possível que, por isso, tenha tentado ontem uma aproximação entre Santos e o maior opositor ao acordo, o ex-presidente Álvaro Uribe.
"O Papa visitará a Colômbia em 2017, mas quando a paz estiver estabelecida. Apenas com a assinatura, não se resolve a paz", comentou Giovanni Impagliazzo, da comunidade católica de Santo Egídio, que acompanhou por mais de quatro anos as negociações em Cuba.
Santos, que voltou a agradecer o gesto do Papa, manteve o perfil institucional de sua visita, dando poucas declarações sobre o caso, enquanto Uribe aproveitou para ilustrar todas as suas queixas ante a imprensa internacional.
- Conselhos de Mandela -Em um discurso para estudiosos, religiosos e jornalistas reunidos na Sala Papal de Assis, Santos contou como conseguiu a paz com as Farc, o "mapa do caminho" seguido por quase seis anos (dois deles em sigilo), e reconheceu a importância dos conselhos de Nelson Mandela, lendário ativista contra o apartheid, político e primeiro presidente negro da África do Sul na década de 1990.
"Conversamos por seis horas sobre a paz em 1994. Ele me deu um conselho muito importante: não se deixe influenciar pela conjuntura. Não dê ouvido a rumores, nem tudo o que se diz ao redor do processo. Concentre-se nos textos do acordo. Para isso, é necessária muita disciplina, garanto a vocês", afirmou Santos.
O presidente assinalou que uma imagem do que ocorreu na África do Sul o ajudou a superar os momentos mais difíceis: ter visto "vítimas e réus se enfrentando nos julgamentos que eram transmitidos pela TV. Eles terminavam abraçados, chorando, algo comovente", contou.
"É que as mais generosas, as mais propensas a perdoar foram as vítimas. Isso foi uma lição de vida", assinalou.
Ao responder a um jornalista italiano se a guerrilha efetivamente entregaria as armas, Santos afirmou que elas "serão entregues 150 dias depois da assinatura nas Nações Unidas. Mais de 500 observadores internacionais farão o inventário", disse.
A visita de Santos a Assis é a última etapa de sua viagem de três dias a Itália e Vaticano, de onde seguirá com destino à Colômbia, com uma parada técnica em Portugal.
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